Não voltaria um único dia na minha
vida, e lembranças boas é o que não me faltam. Não voltaria à infância -
mesmo nunca mais tendo sentido tanto orgulho de mim quanto senti no dia
em que ganhei minha primeira bicicleta sem rodinhas auxiliares, aos 6
anos, e saí pedalando sem ajuda, já no primeiro minuto, sem quedas no
currículo. Não voltaria à adolescência, quando fiz minhas primeiras
viagens sozinha com as amigas e aprendi um pouquinho mais sobre quem eu
era - e sobre quem eu não era. Não voltaria ao dia em que minhas filhas
nasceram, que foram os dias mais felizes da minha vida, de uma
felicidade inédita porque dali por diante haveria alguma mutilação na
liberdade que eu tanto prezava - mas, por outro lado, experimentaria um
amor que eu nem sonhava que podia ser tão intenso. Não voltaria ao dia
de ontem - e ontem eu era mais jovem do que hoje, ontem eu era mais
romântica do que hoje, ontem eu nem tinha pensado em escrever esta
crônica, ontem faz mil anos. Não tenho saudades de mim com menos
celulite, não tenho saudades de mim mais sonhadora. Não voltaria no
tempo para consertar meus erros, não voltaria para a inocência que eu
tinha - e tenho ainda. Terei saudades da ingenuidade que nunca perdi?
Não tenho saudades nem de um minuto atrás. Tudo o que eu fui prossegue
em mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pelos comentários, beijos