"A psicanálise tornou conhecida a íntima conexão existente entre o
complexo do pai e a crença em Deus. Fez-nos ver que um Deus pessoal nada
mais é, psicologicamente, do que uma
exaltação do pai, e diariamente podemos observar jovens que abandonam
suas crenças religiosas logo que a autoridade paterna se desmorona.
Verificamos, assim, que as raízes da necessidade de religião se
encontram no complexo parental. O Deus todo-poderoso e justo e a
Natureza bondosa aparecem-nos como magnas sublimações do pai e da mãe,
ou melhor, como reminiscência e restaurações das idéias infantis sobre
os mesmos. Biologicamente falando, o sentimento religioso origina-se na
longa dependência e necessidade de ajuda da criança; e, mais tarde,
quando percebe como é realmente frágil e desprotegida diante das grandes
forças da vida, volta a sentir-se como na infância e procura então
negar a sua própria dependência, por meio de uma regressiva renovação
das forças que a protegiam na infância. A proteção contra doenças
neuróticas, que a religião concede a seus crentes, é facilmente
explicável: ela afasta o complexo paternal, do qual depende o sentimento
de culpa, quer no indivíduo quer na totalidade da raça humana,
resolvendo-o para ele, enquanto o incrédulo tem de resolver sozinho o
seu problema."
Sigmund Freud
("Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância", 1910)
("Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância", 1910)
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